http://rederecord.r7.com/video/azeite-e-conhecido-mundialmente-como-um-dos-alimentos-mais-saudaveis-que-existe-52aee3360cf218f0319afa59/
Sempre lembrando que simplesmente adicionar azeite de oliva na dieta pode engordar, porque azeite é gordura! A idéia é trocar outras fontes de gorduras, principalmente animais, por gorduras vegetais, como o azeite!
Bom apetite!
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
A importância do colesterol e das estatinas
Tenho muito respeito pelo prof.
Drauzio Varella, uma eminente voz médica e lúcida ao tratar com o público leigo
temas difíceis e delicados. Porém, em sua coluna da folha chamada “A agonia do
colesterol”, o dr. Drauzio, comete alguns equívocos que podem confundir a
população e levar a uma interrupção de tratamentos com estatinas, remédios cuja
principal função é reduzir o colesterol, para pessoas que se beneficiam
claramente desse medicação.
Há muitas décadas é sabido o
papel de altas taxas de colesterol, principalmente aquelas presentes em
proteínas conhecidas como LDL, que saem do fígado e seguem para as artérias, e
o risco de desenvolvimento de placas de aterosclerose e consequentemente,
doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, principais causas de morte no
mundo ocidental. Por exemplo, indivíduos com alterações metabólicas genéticas,
com níveis altíssimos de colesterol podem apresentar aterosclerose ainda na
infância e reduzir esses níveis ajudam a melhorar sua condição. Mas mesmo na
população geral, há uma clara relação entre níveis mais altos de LDL e doença cardiovascular.
Essa relação não implica que
tratar o LDL reduzirá seu risco, é preciso estudos. E as estatinas, de quem
estamos falando, foram avaliadas em diversos estudos em diversas populações e
os resultados são claros: elas baixam o LDL colesterol e reduzem o risco de
eventos cardiovasculares. Em populações de alto risco dessas doenças, por
exemplo, diabéticos, tabagistas e hipertensos graves ou indivíduos que já
tiveram alguma vez um infarto ou AVC, os resultados são inquestionáveis e em
grande parte responsável pela expressiva queda de mortalidade (junto com um bom
tratamento para a hipertensão) por doenças cardiovasculares nas últimas
décadas. Os resultados são tão bons que atrapalham até a avaliação de outros
remédios, pois não é ético deixar indivíduos em pesquisa sem medicações para
colesterol e hipertensão para avaliar eficácia de outras medicações candidatas
a serem utilizadas.
A questão é que, em um indivíduo
que tem apenas um LDL um pouco alto (por exemplo, 150), mas não fuma, não tem
diabetes, pratica atividade física e tem pressão normal, a chance do remédio
ser benéfico é bem menor, afinal essa
pessoa tem um risco muito baixo de ter um evento cardiovascular! Ou seja, o
remédio tem grande chance de não ser benéfico afinal essa pessoa não corre
risco de ter um infarto que o remédio evitaria! Muitas pessoas portanto vão
tomar a medicação sem obter benefício para que poucas de fato se beneficiem! Não quer dizer que o remédio seja ruim, ele
simplesmente não é necessário. É como sair de casa com guarda-chuva num dia
ensolarado. O guarda-chuva protege da chuva, é fato, mas em um dia de sol não
vai ter utilidade nenhuma! Portanto, nesse grupo de pacientes de baixo risco
devemos sim ter cuidado ao prescrever uma estatina e avaliar os outros fatores
de risco antes de qualquer decisão. Não devemos ver o colesterol sozinho, mas
sim todo o contexto do paciente. Não devemos tratar um exame e sim um paciente.
Sem esquecer que a medicação tem efeitos colaterais, sendo o mais comum dores
musculares, e mais raramente, alterações em exames do fígado e até levar ao
aparecimento de diabetes! Devemos balancear os riscos x benefícios sempre!
Também
consiste em uma leitura equivocada das novas diretrizes para Tratamento do
Colesterol acreditar que o valor do LDL-colesterol passou a não ter nenhuma importância
e tanto faz os níveis que você tenha
O que o consenso diz é o seguinte,
junto com alguns comentários meus:
1)
em indivíduos de alto risco, os benefícios do
uso de estatinas é tão grande que devemos usar a maior dose tolerada possível,
mesmo que os níveis de colesterol não estejam tão altos – uma questão
importante é que existem outras medicações que baixam colesterol e nenhum
estudo mostrou que elas sejam tão boas quanto as estatinas, portanto, a idéia é
que colesterol deve ser baixado com estatinas e não com outras medicações e
quanto menores os valores alcançados, melhor
2)
em indivíduos com riscos menos óbvios, devemos
tentar calcular seu risco baseado em
diversas variáveis, entre elas o LDL-colesterol, e decidir se o tratamento é válido se o risco
for maior que 7,5% em 10 anos. Se sim, devemos utilizar estatinas para baixar o
colesterol pois o risco é suficientemente grande para que o remédio reduza esse
risco
3)
Indivíduos que tem o LDL colesterol acima de 190 sem tratamento devem ser tratados
igualmente, pois eles passaram boa parte da vida expostos a níveis altos de
colesterol nas artérias e portanto já tem risco alto. Parte desses indivíduos
tem algumas das alterações genéticas que comentei. O problema aqui é que nem
sempre é possível chegar em valores menores que 100 nessas pessoas e portanto a
idéia é que mesmo que não se chegue nesses valores ditos ideais, se estiverem
em tratamento com a dose máxima tolerada
o risco já terá diminuído.
4)
Nos pacientes de baixo risco, o tratamento com
estatinas é menos claro, pelas razões que já falei. Há poucos estudos com
pessoas com menos de 40 ano, por exemplo. Mesmo assim, nos estudos de pessoas
com baixo risco, há diminuição de eventos, mas não de mortalidade, pelas causas
que já comentei, que essas pessoas morrerão de outros fatores que não infarto e
nesse caso, as medicações não terão sido úteis. Para essas pessoas, algumas das
considerações feitas na coluna do dr. Drauzio são bastante válidas. Não devemos
tratar só baseado em um nível de colesterol.
Concluindo, é errado acreditar que as novas
Diretrizes, que não deixam de ser controversas por uma série de razões que não
são possíveis discutir aqui, concluem que os níveis de colesterol não estão
associados com risco cardiovascular. Pelo contrário, a relação é tão evidente
que se recomenda tratar com as doses mais altas possíveis para diminuir o
máximo possível o colesterol em indivíduos com maior risco,, independente do
valor final do LDL. Não devemos desconsiderar o que aprendemos em trinta anos. Também
é óbvio que existe lobby de indústrias farmacêuticas para prescrição de medicamentos,
mas com a atual diretriz, as indústrias de medicamentos para colesterol que não
são estatinas saem perdendo muito e elas igualmente tem fortes lobbies. O
tratamento para pessoas de baixo risco deve sim ser discutido de forma rigorosa,
como propõe o prof. Drauzio, mas minha preocupação é que indivíduos de maior
risco, com benefícios claros, deixem de tomar a medicação baseados nas
conclusões da coluna.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Jet lag - como tratar?
Como tratar o jet lag?
Com o aumento do número de viagens para lugares distantes,
com muitas horas de fuso de diferença, também se elevou o número de pessoas
interessadas em entender mais sobre o fenômeno do jet lag. Se para viajantes de
férias, com tempos de viagem relativamente longas, o problema é minimizado, já que
afinal tudo é festa e há bastante tempo para se adaptar (o que nem sempre é o
caso na volta!), o problema pode ser mais grave para executivos, com viagens de
poucos dias a locais distantes em que uma boa performance física e mental é
importante para se fechar negócios, dar aulas, etc, e ainda mais em comissários de bordo. Nos EUA, onde viagens que
percorrem vários fusos são mais frequentes que no Brasil (a diferença de fuso
entre a Califórnia e Nova Iorque chega a quatro horas, e ao Havaí nem se
fala), o jet lag é considerado em alguns casos uma doença crônica com diversas
manifestações clínicas importantes, que vão desde insônia, a dor de cabeça,
enjôos, prejuízo no trabalho e depressão. Também devemos levar em conta que a
resposta individual a uma mudança de fuso é variada e enquanto há manifestações
de que “é tudo bobagem, é só dormir direito no dia seguinte”, há pessoas que
sofrem muito com essa questão.
Então, vamos tentar esclarecer alguns pontos:
1-
Viajar para o leste tende a ser mais difícil
para se adaptar do que viajar para o oeste – nosso ritmo circadiano (que é o
ritmo interno do nosso corpo, que dura aproximadamente 24 horas, independente
do ambiente em que estamos) lida melhor com um prolongamento do dia do que com
um encurtamento (basta perceber que é muito mais fácil dormir mais tarde do que
ir dormir às sete da noite) e quando viajamos a leste, temos um encurtamento.
Em média, dizemos que nosso ritmo interno se readapta ao ritmo externo numa
velocidade de 92 minutos por dia quando vamos ao oeste e 57 minutos quando
vamos a leste (ou seja, em um fuso de 5 horas, você estará readaptado após 5
dias viajando a leste e 3 dias, a oeste). O fato de você não sentir os sintomas
depois desse tempo não significa necessariamente que seu ritmo se sincroniza mais rápido,
apenas que isso pode não ser aparente (em geral, a sensação das pessoas é que elas se adaptam mais rápido do que o real, que pode ser medido por temperatura corporal nas 24 horas, por exemplo).
2-
Em viagens a leste, a melhor opção é acordar bem
cedo e se expor à luz – a exposição à luz de manhã costuma acelerar nosso
ritmo, como se desse a informação ao corpo que o dia começou mais cedo que o
esperado. Em viagens ao oeste é o contrário, quanto mais exposto à luz você
estiver no final da tarde, melhor, pois seu corpo reconhece isso como um dia
que está se prolongando
3-
Viagens com mais de 8 fusos de diferença são
mais complicadas – o ideal é você evitar estar na rua no amanhecer e no
entardecer, pois a mudança de luz pode significar, para seu relógio interno,
que o amanhecer é o anoitecer e vice-versa, atrapalhando ainda mais o processo –
uma alternativa é utilizar óculos escuros nesses períodos
4-
Uso de melatonina: usar melatonina pode ajudar a
ressincronizar seu ritmo mais rapidamente, mas há meios certos de se usar. Quando
se viaja a leste, o ideal é tomar a melatonina ao deitar (pois nesse momento,
no país de origem ainda é claro e o nosso corpo ainda não começou a produzir o
hormônio por conta própria). Em geral, toma-se apenas nos primeiros dias até o
corpo “entender” que aquele horário é o ideal para se produzir melatonina e
passar a produzir por conta, com o ritmo já sincronizado. Em viagens a oeste,
porém, na hora de deitar, sua produção de melatonina já é máxima e toma-la não
tem nenhuma vantagem, a não ser que se tome doses altas que têm a capacidade de
ser hipnótica, mas no caso, qualquer hipnótico, como zolpidem, teria a mesma
função. A melatonina, nesse caso, seria útil para ser tomada no meio da
madrugada, caso você acorde e não consiga mais dormir- mas a dose teria que ser
baixa, no máximo 1 mg, para evitar que você fique dormindo a manhã inteira por ter usado uma dose hipnótica (que te deixará com sono por mais tempo)
5-
A recomendação de tentar adaptar-se logo ao novo
fuso-horário é simples e eficiente. Em geral, as companhias aéreas não ajudam
muito nisso, servindo refeições em horários esdrúxulos, mas ao chegar tente já
comer nos horários locais e pare de ficar fazendo aquelas contas mentais “no
Brasil são tantas horas, por isso ainda não estou com fome”.
6-
Noites bem dormidas nos primeiros dias são
importantes, mas nem todo mundo consegue dormir bem no avião (aliás, acho que a
minoria que consegue)- o cansaço inicial pode fazer com que você queira dormir
chegando no hotel, mas cochilos maiores de uma hora tendem a deixar você com “inércia
de sono” no resto do dia- aquela sensação de que você dormiu, mas continua
cansado e sem conseguir raciocinar direito – ou faça cochilos de até 45 minutos
(por mais difícil que seja) ou tente passear bastante até cansar e vá dormir
mais cedo esse dia – dormir à tarde pode tirar seu sono à noite, principalmente
em viagens para leste
7-
Medidas simples como café pela manhã também tem
sua utilidade comprovada- só não exagere o dia todo para não ficar com insônia
à noite
8-
Não minimize seus sintomas na volta para casa –
trabalhar cansado, com uma noite mal dormida e com jet lag, pode ser muito
contraproducente e pode atrapalhar seu restabelecimento –mas as estratégias são
as mesmas já citadas (lembrando que a volta é o contrário- quando se vem do
oeste é pior do que quando se vem do leste)
Minhas informações são baseadas em
evidências clínicas, publicadas em diversas revistas médicas, além de eu trabalhar e estudar, entre outras
coisas, com distúrbios hormonais relacionados ao sono e ritmo circadiano. Como
dito antes, cada pessoa reage de maneira distinta aos mesmos estímulos e essas
dicas podem ter maior ou menor valor para diferentes pessoas, mas essas são as
que hoje são consideradas melhores medidas para o jet lag.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Dieta paleolítica - esclarecimentos
Fui entrevistado para uma matéria bem polêmica da Revista Vogue, que trata de duas dietas, uma que apregoa jejum algumas vezes na semana e outra sobre a dieta paleolítica. A primeira dieta não merece nem comentários, foi altamente criticada por mim, mas infelizmente não apareceu qualquer menção ao que eu falei no texto.
Quanto à dieta paleolítica, também critiquei, porém a frase que saiu foi: “se a dieta da era paleolítica fosse boa como dizem, as pessoas não viveriam tão pouco naquela época, 25 anos em média".
Algumas pessoas (não muitas) me criticaram por essa frase, dizendo que não era a dieta que os matavam aos 25 anos. E de fato, não foi isso o que quis dizer com essa frase, que ficou um pouco fora de contexto, mas nem por isso ela perde a validade.
O que quis dizer é que muitos apregoam essa "volta ao antigo", "busca pelo elo perdido" como algo maravilhoso, que só nos traria benefícios e o fato é que a expectativa de vida só aumenta no mundo como um todo e se vivia muito pouco tempo na época das cavernas.
Não pretendo discutir aqui todas as causas que levaram a um aumento da expectativa de vida desde que saímos da Idade das Pedras, mas é fato que morria-se muito de infecções, inclusive alimentares (comidas cruas, mal conservadas, com vermes, bactérias e afins, água contaminada). Não havia antibióticos na época e qualquer infecção tinha alto poder de ser fatal. Deficiências vitamínicas também eram freqüentes, pois muitas vezes a disponibilidade de alimentos era pequena ou havia pouca variação. Não só isso, recentemente, descobriu-se através de múmias que indivíduos jovens (ao redor de 30 anos) já possuíam aterosclerose (entupimento de artérias), que muitos consideravam uma doença da vida moderna, mostrando que a história talvez não fosse bem essa.
A crítica que faço aqui não é apenas para a dieta. Muitos apregoam "ser contra" medicações, "ser contra" partos cesáreas e por aí vai, dizendo que passamos milênios sem essas opções e sobrevivemos. Sim, sobrevivemos, mas a questão da expectativa de vida volta à tona. Antibióticos diminuíram absurdamente as mortes por infecção, soros caseiros simples diminuíram absurdamente a mortalidade infantil, estatinas e medicações para pressão estão diminuindo nas últimas décadas as mortes por infarto e derrame, insulina salva a vida de diabéticos tipo I que morreriam de inanição em meses. Quanto aos partos, é claro que talvez tenhamos exagero nas indicações de cesárea (não sou obstetra e não vou entrar nessa discussão), mas devemos lembrar que até o século passado, a morte materna e infantil relacionada ao parto era extremamente comum e hoje em dia é considerada uma tragédia (felizmente). A Literatura Clássica, a História estão repletas de histórias de mortes no parto, de rainhas, damas, heroínas e por aí vai. As mulheres engravidavam sabendo que aquela poderia ser sua sentença de morte.
Portanto, foi isso que eu quis dizer quando critiquei a dieta paleolítica - o argumento que a sustenta não é válido.
Dietas que restringem muitos tipos de alimentos tendem a levar a deficiências de vitaminas e minerais, além de serem mais difíceis de ser seguidas a longo prazo. Comer só alimentos crus vou me abster de comentar.
A melhor dieta é aquela que cada um melhor se adapta e consegue manter a longo prazo, de maneira balanceada. Evitar junk-foods e gorduras trans é importante (há estudos científicos que comprovam isso) e a dieta do mediterrâneo (que prioriza peixes, nozes e castanhas, óleo de oliva, cereais, legumes, frutas e queijo) também já se mostrou benéfica em diversos estudos e pode ser seguida, mas de novo, apenas se ela se adapta bem a seu estilo de vida. Não há milagres!
Cuidado com os dogmas! Termino perguntando aos adeptos da dieta paleolítica se eles também utilizam água do rio para lavar seus alimentos, e se estocam no sal seus alimentos por meses - ah, uma pesquisa também mostrou que boa parte da proteína que se comia naquela época vinha de insetos! Não vou falar nada sobre se essas pessoas não usariam antibióticos ou insulina, pois diriam que a discussão é sobre alimentação!
Quanto à dieta paleolítica, também critiquei, porém a frase que saiu foi: “se a dieta da era paleolítica fosse boa como dizem, as pessoas não viveriam tão pouco naquela época, 25 anos em média".
Algumas pessoas (não muitas) me criticaram por essa frase, dizendo que não era a dieta que os matavam aos 25 anos. E de fato, não foi isso o que quis dizer com essa frase, que ficou um pouco fora de contexto, mas nem por isso ela perde a validade.
O que quis dizer é que muitos apregoam essa "volta ao antigo", "busca pelo elo perdido" como algo maravilhoso, que só nos traria benefícios e o fato é que a expectativa de vida só aumenta no mundo como um todo e se vivia muito pouco tempo na época das cavernas.
Não pretendo discutir aqui todas as causas que levaram a um aumento da expectativa de vida desde que saímos da Idade das Pedras, mas é fato que morria-se muito de infecções, inclusive alimentares (comidas cruas, mal conservadas, com vermes, bactérias e afins, água contaminada). Não havia antibióticos na época e qualquer infecção tinha alto poder de ser fatal. Deficiências vitamínicas também eram freqüentes, pois muitas vezes a disponibilidade de alimentos era pequena ou havia pouca variação. Não só isso, recentemente, descobriu-se através de múmias que indivíduos jovens (ao redor de 30 anos) já possuíam aterosclerose (entupimento de artérias), que muitos consideravam uma doença da vida moderna, mostrando que a história talvez não fosse bem essa.
A crítica que faço aqui não é apenas para a dieta. Muitos apregoam "ser contra" medicações, "ser contra" partos cesáreas e por aí vai, dizendo que passamos milênios sem essas opções e sobrevivemos. Sim, sobrevivemos, mas a questão da expectativa de vida volta à tona. Antibióticos diminuíram absurdamente as mortes por infecção, soros caseiros simples diminuíram absurdamente a mortalidade infantil, estatinas e medicações para pressão estão diminuindo nas últimas décadas as mortes por infarto e derrame, insulina salva a vida de diabéticos tipo I que morreriam de inanição em meses. Quanto aos partos, é claro que talvez tenhamos exagero nas indicações de cesárea (não sou obstetra e não vou entrar nessa discussão), mas devemos lembrar que até o século passado, a morte materna e infantil relacionada ao parto era extremamente comum e hoje em dia é considerada uma tragédia (felizmente). A Literatura Clássica, a História estão repletas de histórias de mortes no parto, de rainhas, damas, heroínas e por aí vai. As mulheres engravidavam sabendo que aquela poderia ser sua sentença de morte.
Portanto, foi isso que eu quis dizer quando critiquei a dieta paleolítica - o argumento que a sustenta não é válido.
Dietas que restringem muitos tipos de alimentos tendem a levar a deficiências de vitaminas e minerais, além de serem mais difíceis de ser seguidas a longo prazo. Comer só alimentos crus vou me abster de comentar.
A melhor dieta é aquela que cada um melhor se adapta e consegue manter a longo prazo, de maneira balanceada. Evitar junk-foods e gorduras trans é importante (há estudos científicos que comprovam isso) e a dieta do mediterrâneo (que prioriza peixes, nozes e castanhas, óleo de oliva, cereais, legumes, frutas e queijo) também já se mostrou benéfica em diversos estudos e pode ser seguida, mas de novo, apenas se ela se adapta bem a seu estilo de vida. Não há milagres!
Cuidado com os dogmas! Termino perguntando aos adeptos da dieta paleolítica se eles também utilizam água do rio para lavar seus alimentos, e se estocam no sal seus alimentos por meses - ah, uma pesquisa também mostrou que boa parte da proteína que se comia naquela época vinha de insetos! Não vou falar nada sobre se essas pessoas não usariam antibióticos ou insulina, pois diriam que a discussão é sobre alimentação!
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Sono e obesidade (para médicos- publicado na Revista da ABESO)
A restrição de sono é um dos grandes efeitos do estilo de
vida moderno e questionários americanos demonstram claramente que o número de
indivíduos com sintomas relacionados a essa restrição vem crescendo
progressivamente, assim como o número total de horas dormidas como um todo vem
se reduzindo,principalmente durante a semana. Um questionário simples com
residentes de endocrinologia no Hospital das Clínicas (mesmo os que não dão
plantão) mostra 90% dos mesmos com restrição durante a semana e compensação de
fim de semana. Considerando que o sono ocupa cerca de 1/3 de nossas vidas e não
podemos viver sem ele, é de se esperar que essa restrição traga sérios
malefícios a nossa saúde.
De
fato, inúmeros trabalhos publicados recentemente sugerem uma maior mortalidade
e maior risco de eventos cardiovasculares (Risco relativo aproximado de 1,3)
para quem dorme menos de 7 horas por noite. O mesmo acontece para quem dorme em
excesso, porém essa é uma condição bem mais rara e não vai ser detalhada nesse
texto.
O interessante, e muito pouco
comentado, é que também existem diversos estudos que correlacionam a restrição de
sono com a prevalência de obesidade em populações gerais, sendo que a relação
mais forte ocorre em crianças e adolescentes. Nessas faixas etárias, todos os
estudos transversais mostraram relação positiva. Já em adultos, 13 de 19
estudos também encontraram essa relação, na maior parte das vezes, em U, com
menor incidência de obesidade entre aqueles que dormiam entre 7 a 8 horas. É
muito difícil compilar esses estudos e chegar a dados definitibos devido a
diferentes comparações e populações, mas a aparente relação pode ser explicada
com base nos conhecimentos atuais.
Estudos
clássicos já demonstraram que indivíduos privados de sono (4 horas VS 8 horas)
tendem a ter escores de fome mais altos e de saciedade mais baixos, com
preferência nítida por alimentos mais calóricos. Uma das razões seria um
aumento da grelina e redução da leptina nesses indivíduos no dia seguinte ao
que dormiam menos. Um recente estudo com neuroimagem demonstrou que indivíduos
privados de sono têm aumento do estímulo hedônico ao visualizarem alimentos
mais calóricos, com óbvias conseqüências. Além disso, é claro que quanto maior
o tempo de vigília, maior a exposição a alimentos e também a álcool. Provavelmente,
porém, não é só o aumento da ingestão que estaria envolvido nessa relação. Uma
provável redução do gasto energético foi aventada, porém, até o momento, não há
uma demonstração precisa de que isso ocorra, embora dados (e o bom senso)
sugerem uma menor carga de atividade física programada naqueles indivíduos
privados de sono. Como a fisiopatologia da obesidade é complexa, outros fatores
também já foram estudados, como a disrupção no ritmo ultradiano do cortisol (levando
a maior lipogênese por maior área sob a curva de secreção do hormônio), alterações
na sinalização de insulina (com maior sensibilidade em tecido adiposo, também
favorecendo lipogênese) e um aumento da oxidação preferencial de carboidratos
em detrimento de gorduras (quociente respiratório mais alto).
Cabe
ressaltar que a quantidade de horas de sono é apenas uma entre inúmeras
variáveis que podem relacionar sono e obesidade. Qualidade do sono, exposição à
luz noturna, proporção de sonos de onda lenta e sono REM, trabalho noturnos, jet-lag
social, apnéia do sono e sazonalidade são alguns dos fatores que também já se
mostraram associados à obesidade e cada um deles mereceria destaque em um
artigo como este.
Estabelecida
esta relação, com todas as críticas que se possa fazer a estudos transversais,
que não estabelecem causa e efeito, resta uma outra dúvida importante: em um
indivíduo que iniciará um programa de perda de peso, a privação de sono pode
atrapalhar esse intento? Há menos estudos que avaliaram esse tema, mas
aparentemente sim.
Em um
ensaio clínico com alimentação pré-montada, um questionário do sono foi
realizado e aqueles que dormiam menos de 7 horas por noite tinham um risco
relativo para perder mais de 10% do peso de 0,7, ou seja, uma maior dificuldade
de perder peso, valores que permaneceram significativos mesmo após um ano de
tratamento.
Já em
um estudo cross-over com 10 indivíduos com sobrepeso que faziam restrição
calórica moderada por 2 semanas dormindo 8 horas ou 5 horas e meia, no período
de menor sono, a perda de massa magra foi 60% da total, provavelmente devido a
um quociente respiratório mais alto, com maior oxidação de carboidrato e maior
conservação de gordura.
Compilando
todos esses dados, é claro que há ainda muitas dúvidas a serem respondidas, mas
um bom questionário sobre o sono e orientações para uma noite bem dormida devem
fazer parte de uma consulta clínica de indivíduos que desejam emagrecer.
Tentar
entender melhor os motivos que levariam à essa relação sono-obesidade também
nos poderá ajudar a conhecer melhor a fisiopatologia da obesidade e encontrar
novos tratamentos. E, por fim, como promoção à saúde, devemos identificar e
tentar corrigir alterações no sono de nossos pacientes, pois estão claros os
malefícios a longo prazo da privação de sono, não apenas na obesidade, mas em
diversas outras doenças e na mortalidade geral.
Leitura
recomendada:
Penev PD.
Update on energy homeostasis and insufficient sleep. Journal of Clinical
Endocrinology and Metabology 2012; 97 (6): 1792-1801
Killick R,
Banks S, Liu PY. Implications of sleep restriction and recovery on metabolic
outcomes. Journal of Clinical Endocrinology and Metabology 2012; 97
(11):3876-3890
Klingenberg
L, Sjödin A, Holmbäck U, Astrup A, Chaput JP. Short sleep duration and its
relation with energy metabolism. Obesity Reviews 2012; 13:565-577
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