sexta-feira, 29 de junho de 2012

O FDA, a obesidade e a Lorcaserina

Essa semana o FDA aprovou a medicação lorcaserina para tratamento da obesidade. Porém, muito mais do que a medicação em si (cujos resultados no peso não são superiores à sibutramina, por exemplo), o que mais nos alegra, endocrinologistas, é uma mudança de postura do FDA no que concerne às medicações antiobesidade e, por conseguinte, à própria obesidade. Vou explicar melhor. Há 13 anos o FDA não aprovava nenhuma nova medicação específica para obesidade, apesar dos índices alarmantes dessa doença (sim, obesidade é uma doença) nos EUA e de todas suas complicações (como Diabetes, apnéia do sono, infarto, etc). Tudo o que a agência fazia era retirar do mercado produtos já existentes, (alguns corretamente, caso do Isomeride) e não aprovar novos. De maneira até cômica, os argumentos para não aprovação variavam entre "baixa eficácia" e "alta eficácia" (isso mesmo, alta eficácia, pois então muitos indivíduos gostariam de usar e o risco de efeitos colaterais aumentaria!!!), além de "ausência de dados de longo prazo de segurança cardiovascular". Embora esse último argumento aparente ser válido, não há uma única droga no mundo que é lançada com segurança cardiovascular comprovada de longa data, pois estes estudos levam muitos e muitos anos para gerarem respostas e indo mais além, sabemos que a obesidade está associada a risco cardiovascular aumentado e, portanto, deixar de tratar esses indivíduos também é um risco. Uma combinação de duas medicações que já existem (fentermina com topiramato) não foi aprovada num primeiro momento, pois não se sabia o risco de malformações congênitas com o topiramato (mas o remédio já existe no mercado, para tratar epilepsia e enxaqueca!!!). Felizmente, essa combinação (o Qnexa) foi novamente submetida para aprovação e ha chances de ser aprovada.
Essa descrença do FDA nas medicações antiobesidade fez com que muitas indústrias farmacêuticas (que visam obviamente o lucro) parassem de tentar desenvolver medicações com esse propósito, visto que gastariam rios de dinheiro com grandes chances de serem barradas no FDA, mesmo com bons resultados. Quem o maior prejudicado? O obeso, claro.
Essa aprovação da lorcaserina mostra, portanto, que ainda podemos ser otimistas com as Agências Reguladoras e o tratamento da obesidade ainda tem futuro. Novas drogas passarão por julgamento do FDA em breve e esperamos que tenham o mesmo sucesso! Esperamos também que a ANVISA perceba este momento e também aja em favor dos obesos! Não faz sentidos essa "caça às bruxas" com remédios para emagrecer numa população cada vez mais acima do peso!!!