quarta-feira, 25 de julho de 2012

Hipoglicemia em diabéticos

Embora o diabetes seja caracterizado por níveis altos de glicose no sangue, um dos maiores medos do tratamento dos diabéticos é exatamente o contrário, a hipoglicemia (níveis baixos de glicose). A razão é muito simples:na tentativa de baixar esses níveis, eles acabam baixando mais do que deveriam1 Isso é comum com alguns remédios orais (como as sulfas), mas ainda mais freqüente com o uso da insulina. Nos diabéticos do tipo 1, ou seja, aqueles que não produzem insulina e portanto necessitam de insulina exógena para viver, com várias aplicações ao dia, a presença de hipoglicemias é praticamente inevitável para quem quer atingir um bom controle. O importante é que sejam hipoglicemias leves (acima de 60mg/dL nos aparelhos de ponta de dedo), infreqüentes e sintomáticas, isto é, que o paciente saiba reconhecê-las e tratá-las prontamente. Deve-se também evitar ao máximo hipoglicemias noturnas. Quando um diabético tem muitas hipoglicemias, ele passa a ter menos sintomas e isso pode ser perigoso, pois hipoglicemias graves podem ter conseqüências sérias. É importante ressaltar isto, pois é comum diabéticos referirem estar felizes por não ter mais os incômodos sintomas da hipoglicemia. Os mais comuns são sudorese, mal estar, tremores, mas pode ocorrer desmaios. Também é comum, principalmente em idosos, sintomas neurológicos como confusão mental, perda de memória, atitudes estranhas... Em geral, os sintomas melhoram após comer.
O ideal é comer alimentos ricos em glicose e de rápida absorção: suco, água com açúcar, bolacha, fruta, balas. Chocolate e leite não são recomendados pois tem gordura e com isso a absorção é mais lenta e a hipoglicemia demora mais para resolver. Outra coisa importante: deve-se comer com moderação, isto é: um copo de água com açúcar ou 1 fruta ou 2 balas ou 2 bolachas ou 1 copo de suco ou refrigerante normal. A hipoglicemia costuma dar muita fome e se o diabético comer até esta fome passar, inevitavelmente a glicemia subirá muito, o que também é ruim! Portanto, é preciso ter paciência, comer um pouquinho e esperar 15 minutos para repetir a ponta de dedo. Caso ainda esteja baixo, repetir o procedimento!
A Sociedade Brasileira de Diabetes tem ainda algumas outras recomedações: http://www.diabetes.org.br/perguntas-e-respostas/122-como-cuidar-de-uma-hipoglicemia#.UASB0pJixVo.facebook.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Vício a comida

É possível definir vício a comida? Como podemos chamar alguém de viciado se somos todos obrigados a comer? E esse vício, se existir, é por conta de algum nutriente específico, como o açúcar, por exemplo? Não há consenso na literatura médica sobre isso, mas os avanços que vem existindo nessa área nos últimos anos rendem discussões bastante acaloradas.
A situação que mais lembra uma atitude de um "viciado" seria a compulsão alimentar em que pessoas comem grande quantidade de comida em um espaço curto de tempo, sem controle e se arrependendo muito depois, por saber que foi exagerado e poderá ter conseqüências negativas.
Para os psiquiatras, vício é melhor chamado de dependência e envolve 7 itens (para alguém ser dependente, apenas 3 desses itens são necessários):
1- tolerância
2 - sintomas de abstinência
3 - usar mais e por período maior do que planejava
4 -desejo persistente de consumo ou incapacidade de controlar o uso
5 - passar muito tempo procurando, consumindo, ou se recuperando dos efeitos da substância
6 -interferência nas atividades cotidianas
7 -uso da substãncia a despeito de conhcer efeitos adversos.
Os 5 últimos itens são puramente psicológicos e é possível caracterizar dependência somente com eles, mas como precisamos comer, é mais difícil separar o que é "uso" do que é "abuso".
Já os dois primeiros poderiam permitir a definição de dependência física. Em ratos, alguns experimentos com açúcar mostram que pode sim existir sintomas de abstinência, mas estes experimentos estão muito distantes do padrão de consumo alimentar humano (os ratos passavam muitas horas de jejum absoluto e depois tinham acesso a açúcar puro). Não há descrição clara, até o momento, de síndrome de abstinência em humanos.
Em relação à tolerância também é muito difícil de se definir. Em relação ao açúcar, por exemplo, sabe-se que crianças costumam gostar mais do que adultos e esse argumento é completamente inverso ao que se conhece como tolerância. Por outro lado, indivíduos obesos apresentam uma quantidade menor de receptores de dopamina, que geram recompensa. Não se sabe se é causa ou coseqüência, mas, se for conseqüência, isso significaria que esses indivíduos necessitariam de mais comida para alcançar o mesmo prazer, caracterizando tolerância.
Como se vê, é muito difícil tirar conclusões. Ao que parece, drogas agem em circuitos neurais semelhantes aos da comida, mas ainda estamos longe de provar que alguns alimentos viciem, no sentido estrito da palavra. O que talvez exista sejam pessoas mais propensas a desenvolver um comportamento de dependência à comida, tanto física como psicológica.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Tecido adiposo marrom

Ao contrário do que possa parecer, nosso tecido gorduroso é muito mais complexo do que um simples estoque de energia. Nossas células de gordura produzem hormônios, marcadores de inflamação e outros sinalizadores para todo o corpo e, dependendo de onde a gordura esteja, ela tem funções diferentes no metabolismo e se comporta de forma distinta. Como um exemplo, a gordura abdominal (a "barriguinha de cerveja") é mais perigosa que a gordura subcutânea (presente no quadril), mas também é mais fácil de ser mobilizada.
Mas o que vou falar aqui hoje é ainda mais interessante: um tipo diferente de tecido de gordura, que é capaz de produzir calor a partir de nutrientes, ao invés de estocar essa energia: é o tecido adiposo marrom. Essa gordura é conhecida há muitos anos, mas até pouco tempo acreditava-se que ela existia em alguns mamíferos (principalmente os que vivem no frio e hibernam) e no recém-nascido, mas após alguns meses de vida, desaparecia em humanos. A função dessa gordura seria produzir calor para esquentar o corpo em situações de frio. Qual não foi a surpresa, há alguns anos, ao se realizar exames de imagem refinados, chamados PET-FDG, quando se descobriu que uma porcentagem dos adultos humanos possuíam também essa gordura! E qual a importância disso? Ora, se pudéssemos ativar essa gordura marrom, queimaríamos parte do que comemos em forma de calor, ao invés de estocar gordura. Seria um mecanismo protetor do ganho de peso. Com isso, poderíamos controlar melhor a epidemia de obesidade.
É nteressante que, quando expomos pessoas ao frio, é mais provável que ela mostre ativação dessa gordura no exame de imagem que comentei. Ou seja, ela está nos defendendo do frio. Uma das possíveis explicações para o aumento da obesidade no mundo pode ser a temperatura mais ou menos constante em que vivemos (ar condicionado, ambiente fechado, agasalhos, etc). Mas não é só: em ratos que recebiam muito alimento, o tecido também se ativava, e assim os animais não ganhavam tanto peso, ou seja, era um mecanismo protetor para ganho de peso! Este tipo de estudo ainda não foi feito em humanos.
Além disso, pessoas magras parecem ter mais ativação de tecido adiposo marrom que obesos e jovens mais do que idosos. Seria essa uma das causas desses indivíduos terem ficados obesos? Ou seria mais difícil de visualizar, visto que é uma ínfima parte da nossa gordura total que é marrom? Não existe ainda resposta para essa pergunta.
Agora, a pesquisa deve-se voltar para substâncias que ativem esse tecido, ou que façam ele aumentar. Até agora sabe-se que capsaicina (que está presente nas pimentas vermelhas) parece ativá-lo, mas há uma série de outras substâncias que também são candidatas. Há pouco tempo descobriu-se também que atividade física faz com que parte de nossa gordura convencional (ou branca) se "amarronze". E uma nova substância descoberta produzida no músculo, a irisina, poderia fazer a mesma função sem necessidade do exercício físico, mas com todas as conseqüências positivas deste, qe já conhecemos há basante tempo!
Ou seja, na prática, ainda há pouco para ser usado. Ninguém vai passar frio ou comer pimenta em grande quantidade para emagrecer, mas o futuro nos reserva muitas possibilidades! Esperemos para ver!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Cigarro e Peso

É muito comum ouvirmos de pessoas que desejam perder peso que a causa para terem engordado foi a cessação do tabagismo, assim como é comum ouvirmos de pacientes que fumam que eles tem medo de parar pois engordarão. Isso, infelizmente, não é um mito e essa relação de fato existe. Uma compilação recente de estudos mostra um ganho de peso médio de 4,5 kgs um ano após parar de fumar. Por quê? Muitas razões existem. Por vezes, o fumante tenta abolir seu desejo pelo cigarro e sua ansiedade comendo - e como isso ocorre com freqüência em horários longe das refeições ou de casa, a qualidade do que se come é ruim. Não há dúvidas também que a própria nicotina é um supressor do apetite e talvez aumente um pouco o metabolismo (o que não é necessariamente bom, pois aumentar o metabolismo pode levar a aumento de risco de infarto, por exemplo, pois o coração precisa trabalhar mais). Pesquisas recentes tentam descobrir medicamentos que tenham esse efeito de diminuir o apetite da nicotina sem ter os efeitos maléficos dela (entre eles o vício). Devemos lembrar também que o cigarro contém muito mais do que nicotina e a imensa maioria dos compostos são extremamente deletérios para nosso corpo.
Mas nem tudo são más notícias. Esse mesmo estudo que mostrou ganho de peso médio de 4,5 kgs, mostrou que 16%-20% dos indivíduos na realidade perdem peso! Ou seja, é possível sim conciliar duas ótimas coisas! Para isso, é importante estar disposto a enfrentar grandes modificações de vida, de preferência com acompanhamento médico e eventualmente, utilizando medicações que possam ajudar (um bom exemplo é a bupropiona, medicação usada para ajudar a diminuir a ansiedade associada com a parada do cigarro, e que também consegue levar a uma pequena diminuição do peso - mas outras medicações também podem ser usadas).
De qualquer forma, é importante ressaltar que mesmo um eventual ganho de peso ainda é mais saudável do que continuar fumando! Fumar está associado a inúmeras condições deletérias para a saúde, desde má saúde dentária a infarto e cânceres de diversos tipos (e muito mais), como todos sabem. Portanto, se você fuma, não use essa desculpa para não largar! Procure um médico e as chances de se conseguir largar um vício péssimo e evitar o ganho de peso são bem grandes!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Diabetes tipo 2 em crianças

Tive a oportunidade de asistir a apresentação do Estudo TODAY, durante o Congresso Americano de Diabetes, no mês passado. Este estudo avaliou diferentes tratamentos para diabetes tipo 2 em crianças, que vem aumentando de prevalência de maneira impressionante nos EUA na última década, embora no Brasil ainda seja bastante raro (em adultos, porém, é extreamente comum, ao redor de 10%). Nesse estudo, de longa duração, viu-se dados preocupantes: quase metade das crianças com diabetes tipo 2 acabam precisando de insulina em poucos anos, mesmo usando medicações e, mais ainda, mesmo fazendo grandes modificações de estilo de vida com intuito de reduzir o peso entre 7-10%. Isso mostra, na minha opinião, que devemos incentivar ainda mais as crianças a perderem peso no momento em que ainda não apresentam diabetes, pois se não, pode ser tarde.
Mas isso também nos faz pensar,  e já vemos isso baseado em outros estudos, que a obesidade não é a única causa para o aumento impressionante do número de diabéticos em jovens (pois senão, já teríamos mais no Brasil também, que engordou muito nas últimas décadas). Nos EUA, por exemplo, a prevalência de obesidade estacionou na última década, mas a prevalência de Diabetes e Pré-Diabetes em adolescentes saltou de 9 para incríveis 23%. Talvez os obesos estejam mais obesos, talvez o tempo de obesidade seja maior, mas talvez existam outros fatores... Alguns implicados: poluição, disruptores endócrinos (substâncias presentes em plásticos, por exemplo), mães obesas e com glicemia alta que "passaram" aos filhos uma predisposição maior (que hoje chamamos epigenética), menor aleitamento materno, deficiências vitamínicas (exemplo: vitamina D, que temos baixa por tomar pouco sol)... Todos esses fatores parecem ter uma importância e acredito ser de extrema importância sabermos mais sobre eles para também tentarmos modificá-los antes do aprecimento do diabetes. Me proecupa que talvez essa epidemia de diabetes em jovens nos EUA ainda não tenha chegado ao Brasil, mas acabe por chegar. Por enquanto, enquanto tentamos descobrir o porquê deste aumento, vamos fazer o que podemos: vamos emagrecer nossas crianças, jovens e também mulheres em idade fértil!