sexta-feira, 10 de maio de 2013

Dieta paleolítica - esclarecimentos

Fui entrevistado para uma matéria bem polêmica da Revista Vogue, que trata de duas dietas, uma que apregoa jejum algumas vezes na semana e outra sobre a dieta paleolítica. A primeira dieta não merece nem comentários, foi altamente criticada por mim, mas infelizmente não apareceu qualquer menção ao que eu falei no texto.
Quanto à dieta paleolítica, também critiquei, porém a frase que saiu foi: “se a dieta da era paleolítica fosse boa como dizem, as pessoas não viveriam tão pouco naquela época, 25 anos em média".
Algumas pessoas (não muitas) me criticaram por essa frase, dizendo que não era a dieta que os matavam aos 25 anos. E de fato, não foi isso o que quis dizer com essa frase, que ficou um pouco fora de contexto, mas nem por isso ela perde a validade.
O que quis dizer é que muitos apregoam essa "volta ao antigo", "busca pelo elo perdido" como algo maravilhoso, que só nos traria benefícios e o fato é que a expectativa de vida só aumenta no mundo como um todo e se vivia muito pouco tempo na época das cavernas.
Não pretendo discutir aqui todas as causas que levaram a um aumento da expectativa de vida desde que saímos da Idade das Pedras, mas é fato que morria-se muito de infecções, inclusive alimentares (comidas cruas, mal conservadas, com vermes, bactérias e afins, água contaminada). Não havia antibióticos na época e qualquer infecção tinha alto poder de ser fatal. Deficiências vitamínicas também eram freqüentes, pois muitas vezes a disponibilidade de alimentos era pequena ou havia pouca variação. Não só isso, recentemente, descobriu-se através de múmias que indivíduos jovens (ao redor de 30 anos) já possuíam aterosclerose (entupimento de artérias), que muitos consideravam uma doença da vida moderna, mostrando que a história talvez não fosse bem essa.
A crítica que faço aqui não é apenas para a dieta. Muitos apregoam "ser contra" medicações, "ser contra" partos cesáreas e por aí vai, dizendo que passamos milênios sem essas opções e sobrevivemos. Sim, sobrevivemos, mas a questão da expectativa de vida volta à tona. Antibióticos diminuíram absurdamente as mortes por infecção, soros caseiros simples diminuíram absurdamente a mortalidade infantil, estatinas e medicações para pressão estão diminuindo nas últimas décadas as mortes por infarto e derrame, insulina salva a vida de diabéticos tipo I que morreriam de inanição em meses. Quanto aos partos, é claro que talvez tenhamos exagero nas indicações de cesárea (não sou obstetra e não vou entrar nessa discussão), mas devemos lembrar que até o século passado, a morte materna e infantil relacionada ao parto era extremamente comum e hoje em dia é considerada uma tragédia (felizmente). A Literatura Clássica, a História estão repletas de histórias de mortes no parto, de rainhas, damas, heroínas e por aí vai. As mulheres engravidavam sabendo que aquela poderia ser sua sentença de morte.
Portanto, foi isso que eu quis dizer quando critiquei a dieta paleolítica - o argumento que a sustenta não é válido.
Dietas que restringem muitos tipos de alimentos tendem a levar a deficiências de vitaminas e minerais, além de serem mais difíceis de ser seguidas a longo prazo. Comer só alimentos crus vou me abster de comentar.
A melhor dieta é aquela que cada um melhor se adapta e consegue manter a longo prazo, de maneira balanceada. Evitar junk-foods e gorduras trans é importante (há estudos científicos que comprovam isso) e a dieta do mediterrâneo (que prioriza peixes, nozes e castanhas, óleo de oliva, cereais, legumes, frutas e queijo) também já se mostrou benéfica em diversos estudos e pode ser seguida, mas de novo, apenas se ela se adapta bem a seu estilo de vida. Não há milagres!
Cuidado com os dogmas! Termino perguntando aos adeptos da dieta paleolítica se eles também utilizam água do rio para lavar seus alimentos, e se estocam no sal seus alimentos por meses - ah, uma pesquisa também mostrou que boa parte da proteína que se comia naquela época vinha de insetos! Não vou falar nada sobre se essas pessoas não usariam antibióticos ou insulina, pois diriam que a discussão é sobre alimentação!

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